PAI
Quando era pequena, o meu pai contava-me uma história que inventou, com um humor bizarro que me habituei e passei a admirar nele. A história era sempre a mesma, mas de alguma forma fazia-me sentir bem, divertia-me e eu pedia-lhe: “- Conta a do coelho e do arroz.” E o meu pai contava, com um sorriso cómico, tímido mas que lá estava, sempre. A verdade é que aquilo também o divertia. Hoje percebo porque gostava tanto da história. Era o nosso momento, a nossa história, partilhada só por nós. Como uma espécie de conversa e cumplicidade que nos unia.
Hoje, crescida, percebo que o que interessava era a forma e não o conteúdo: o sorriso do meu pai, a minha vontade de escutar e a dele de contar, de estarmos juntos, sem pressa.
Com os miúdos é isto mesmo. As histórias não têm de ser bestsellers, escritas só por escritores famosos ou contadas por contadores de histórias profissionais. Podem até ser simples, repetidas, mas o que mais importa é que acima de tudo sejam sentidas, transmitidas com cumplicidade, num tempo único e exclusivo entre pai e filho, em que o prazer e a satisfação de ali estarem juntos, apenas com uma história, uma conversa ou um abraço, é uma das maiores aprendizagens e contributos que se pode dar a um filho a crescer.
As memórias, aconteça o que acontecer, ninguém nos tira.
E às vezes é mesmo só isto. Feliz dia do Pai.
Fonte imagem: https://bibliomoureag.wordpress.com/tag/dia-do-pai/