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Uma pausa na vida de psicóloga, de mulher, de pessoa

A pausa chegou. A pausa na vida. Como se ela parasse, ficasse no mesmo sítio, minuto, segundo e local de onde partimos para uma pausa. Como se nos próximos dias, minutos aquilo que sou, faço, tenho, ficasse parado e fosse ser outra. Outra mulher, outra pessoa, outra eu. É esta a pausa que finalmente chega.

E parto para a pausa, com dificuldade de sair de mim, da vida rotineira, da sala de trabalho, dos miúdos e dos pais, dos amigos e da rua, da cama e da secretária. A dificuldade rapidamente dá lugar a uma facilidade de descoberta, de sair de mim, de nós. De olhar mais para os outros e apenas sentir sem olhar para mim. E essa parte da pausa é a primeira que saboreio e que é fundamental: olhar para outros, diferentes, muito diferentes, esquecer-me um pouco do que sou, sinto (ou costumo ser e sentir), deixar-me em pausa e experimentar como os outros. Essa pausa em nós, permite olharmos e misturarmo-nos com os outros que desconhecemos, com os locais novos, com os cheiros, barulhos e coisas tão diferentes e tão variadas. E isso faz-nos regressar da pausa a nós mesmos com pensamentos novos, emoções distintas, questionamento e formas diferentes de ser e estar que, de uma forma tão espontânea, se fundem e se misturam com o que somos e temos.

Durante a pausa na vida, a curiosidade sem questionamento, o conhecimento do outro sem crítica imediata ou sem juízo, apenas a observação e a escuta muito activa do que é diferente e a aceitação tranquila do que é feito, dito ou decidido. E regresso da pausa, a mim, com maior aceitação do outro, maior flexibilidade a realidades diferentes, à compreensão de que podemos mesmo ser de maneiras diversas e resultar, de que a felicidade é por si só em cada milímetro de si mesma tão diversa e tanta coisa.

E acima de tudo, na pausa, o tempo. Nesta pausa, o tempo das coisas, o tempo das pessoas com as pessoas. O tempo de estarmos e crescermos connosco, o tempo dos mais novos. O tempo e o seu valor. O tempo ocupado, a forma do tempo. Na pausa, o tempo que passa e como passa numa casa sem paredes e rodeada de natureza, o tempo que passa e como passa numa casa com crianças e (aparentemente) sem brinquedos, o tempo que (não) passa numa noite e numa manhã de chuva torrencial, o tempo do sono, da alimentação, o tempo de sorrir e estar. O tempo que passa e como passa quando o temos.

E regresso da pausa, a mim, à vida, aparentemente sem mudança, porque começo a correr contra o tempo, primeiro ainda sentada a regressar, já o tempo corre nos pensamentos, na antecipação, nas listas do que tenho de fazer e depois nos dias imediatos em que ainda mal aterrei e percebi o que aconteceu na pausa e já o tempo passa depressa e eu a correr. Mas não pode e forço-me conscientemente a parar, a esforço-me para que da pausa deste ano, o tempo seja o ensinamento. O tempo para olhar, para estar mesmo, efectivamente, para não deixar que ele me atropele, para ser assertiva com o mesmo e lhe dizer que a vida passa e passa mesmo. E quando damos conta já passou. E crescemos.

E regresso ao consultório e penso como a aprendizagem do tempo com esta pausa era tão preciosa para os pais e para os miúdos com quem trabalho. É que tudo passa, mesmo sem querermos e é preciso perceber como passa e como queremos que passe. Isso sim podemos querer e fazer questão de não nos esquecer.

Foi a pausa deste ano na vida. É bom estar de volta. Melhor do que fui, com a escolha de estar de volta,

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