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Mas, afinal, os filhos não nascem para serem o que os pais não foram?

Os pais são pessoas, com alguns pensamentos bonitos mas também com outros, muito feios. Idealizam, sonham, imaginam e não deixam de o fazer só porque são pais. Então, vem o confronto. O confronto com o que idealizaram e o que é agora real, com os pensamentos feios de desilusão que fingem não ter, que querem negar ou, às vezes, já não fingem e os filhos percebem.

Um filho não serve para ser o que idealizámos e se, de alguma forma, isso está aí escondido e secreto, saiba que vai desiludir-se, porque não é isso que é suposto acontecer. Vai estar à espera. Voltar a esperar e deparar-se sempre com aquilo que não quer esperar. Os filhos são pessoas com características próprias, influenciados pelo que os rodeia e com uma estrutura biológica; serão pouco saudáveis se nascerem para corresponder às expectativas dos pais, para as superarem ou para serem o que os pais sonham. E se eles não sonharem com o que os pais sonham?

É difícil sairmos do nosso quadro de referência, é difícil percebermos que aquilo que no passado nos fazia falta, hoje pode não fazer a mínima falta ao nosso filho e, por isso, a importância que o seu filho dá a uma moeda de um euro não será a mesma que o pai deu quando era filho, altura em que possivelmente ainda nem sequer circulava o euro… Saia. Tente calçar os sapatos do seu filho e perceber como é ver o mundo no tempo dele, nas condições dele e com as características dele.

Saiba que, com muita frequência, a paternidade acorda as crianças e os adolescentes que cada um de nós tem cá dentro. Aviva memórias muito antigas e tudo o que elas trazem, nem sempre agradável: emoções difíceis, sensações estranhas, acções que geram culpa nos pais ou que prejudicam os filhos. Os pais sentem e chegam a chorar: «Olho para ele e vejo-me com o meu pai. Não quero que seja a mesma pessoa, mas acabo por tratá-lo da mesma forma.» Ou irritam-se e desesperam: «Eu não fui ninguém, mas ele tem oportunidade de ser, porque não aproveita? Por que razão não quer ir para a faculdade? Por que motivo não se empenha nos treinos? Quem me dera.»

É altura de parar, tomar consciência de que o faz e não é o único. Acima de tudo, é altura de aceitar que o seu filho não é igual a si. E não tem de ser. O seu filho não sente da mesma maneira, logo, o seu filho não tem de gostar ou ambicionar as mesmas coisas. O seu filho não tem de ser prejudicado pela sua existência avivar uma criança e um adolescente que sofreu e que o pai tem dentro dele. É difícil mas real, por isso, peça ajuda. O seu filho precisa de espaço, precisa de errar, precisa de experimentar e ensaiar o que quer ser. O seu filho precisa de ser ele mesmo e construir-se a si próprio. É ele que vai viver, enquanto existir, dentro dele, com ele mesmo.

(fonte da imagem: http://www.boredpanda.com/like-father-like-son/)

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